Diablo Motor





   O Diablo Motor não é tecnobrega, não flerta com o eletro e nunca vai aparecer no programa da Regina Casé. Conforme pode ser conferido no pôster malucaço que vem encartado neste álbum de estreia, Rafael Sales (voz), Filipe Cabral (guitarra e voz), Bruno Patrício (baixo) e Thiago Sabino (bateria) estão a galáxias de distância do mundo fashion. Ou seja, a chance de vê-los estampados em editais de moda indie é nula.

   Apesar de virem da terra de Chico Science, não iremos encontrar um único tambor de maracatu na música do Diablo Motor. Até uma pulga sabe que, pro Rock, percussão é responsabilidade da bateria. E o som de bateria que pula dos alto-falantes (espero que ninguém ouça esse disco em caixinhas de computador) é gigante! Cortesia, claro, do produtor Iuri Freiberger, que também é baterista. Existem outros produtores creditados no disco, mas o leme desta embarcação sonora está nas mãos do gaúcho Jack Bauer, que já gravou meio mundo do Rock brasileiro e possui a incrível qualidade de registrar a verdade dos artistas com quem trabalha – seja a atmosfera power pop de um Frank Jorge, a urgência dos Walverdes ou a demência dos Mechanics.

   Mas o mais importante é que no Diablo Motor não existem ecos dessa coisa cada vez mais institucionalizada chamada MPB. Nem a velha e nem a nova. Nenhum rastro de Caê ou do ex-ministro. Tampouco da moçada que nasceu indie (de novo essa palavrinha miserável) e que agora segue naquela trilha com cheiro de dendê. Nada do som das divas, que diluem hoje o que já era cópia na Marisa Monte de 20 anos atrás. E muito menos dos sofridos rappers hypados, que têm na playboyzada classe média branca a fatia mais rentável de seu público. Me resta repetir mais uma vez: se seu negócio não é Rock, nem perca tempo ouvindo o Diablo Motor.

   Dez pedradas old school. Isso é o que a banda entrega numa embalagem bonita de dar gosto. Arranjos venenosos, riffs viciantes e um vocalista inspirado – que abre o gogó com técnica, mas sem frescura – dão a tônica do disco. As letras (em português!) sobre mulheres, cerveja e baladas resgatam uma despretensão que anda sumida do pedaço e funcionam como vetor da energia em estado puro que emana dos caras. Não é gratuito o fato deste primeiro álbum ser homônimo. O Diablo Motor caminha no ombro de gigantes como Led Zeppelin, Black Sabbath e Kiss, mas sem aquela abordagem artificial de uma banda retrô que tenta encapsular estilos musicais numa bolha à prova do tempo. Traduzindo, o Diablo Motor não quer viver o pastiche metido a cool de ser uma banda vintage. Eles apenas são o que são, constituídos pela melhor tradição do Rock Pauleira – se você tem mais de 30, sabe o que eu quero dizer.

   2013. Vivemos tempos estranhos. Num panorama musical dominado por hypes virtuais tão instantâneos quanto descartáveis, onde a aparência é uma necessidade e a discordância um pecado mortal, o Diablo Motor equivale a sair do facebook e curtir a vida na carne. Abra uma cerveja, coloque o CD no aparelho de som do seu pai e deixe a música te atingir. Se você gosta de Rock, pode consumir sem moderação.
                                                                                                                                      by:Márcio Jr.


Site da Banda:






Vídeos:




Redes Sociais:




Nenhum comentário: